quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sobre chutes e previsões

Pô, meu, testemunhar um tsunami ao vivo? Eu não perderia essa de jeito nenhum. Mas antes, uma historinha.

Em 1971 o Clube de Roma, que estuda as  consequencias do crescimento econômico mundial, previu que o crescimento da humanidade seria limitado pelo esgotamento de fontes de energia não-renováveis e de minerais importantes. O cobre, por exemplo. Usando um recurso sofisticado na época - computadores - levantaram a taxa de consumo de cobre nos vinte anos anteriores e projetaram os vinte anos futuros, contemplando as taxas de crescimento econômico esperadas. Conclusão: por volta do ano 2000 as reservas de cobre estariam esgotadas.

O que o Clube de Roma não previu foi que, no final dos anos noventa, o sistema de cabeamento telefônico com fios de cobre passou a ser substituído por fibras óticas, de vidro, muitíssimo mais eficientes. E a matéria-prima para as fibras óticas é o silício. Grosseiramente dizendo: areia, um dos elementos mais abundantes na natureza. E o cobre não acabou.

Os precisos cálculos matemáticos dos especialistas deixaram de fora um detalhe: a engenhosidade do homem, que a cada dia cria novas soluções para velhos problemas.

Lembrei dessa história assistindo uma transmissão ao vivo da CNN que anunciava a chegada de um tsunami ao Havaí, após o terremoto que abalou o Chile no final de Fevereiro de 2010. A câmera mostrava uma bonita praia com as ondas batendo tranquilamente enquanto o locutor dizia que a qualquer minuto o tsunami chegaria. E eu na expectativa. O povo debandou para lugares altos para escapar da onda gigante. E então surgiram mais umas ondinhas e o locutor disse: "os especialistas disseram que já começou". Agora vem! E assim foi... "Agora vem! Já começou! A qualquer momento"... Até que após mais de uma hora a transmissão foi encerrada. Sem tsunami no Havaí. Um fiasco. 

- Pô, tsunami é uma onda gigante! Não tinha um helicóptero ou satélite pra ver o bicho chegando?

E enquanto isso, no Chile, a história foi diferente. Um tsunami arrasou parte do litoral, sem que os especialistas previssem. Previram no Havaí, não teve. Não previram no Chile, teve.

As interações que envolvem os sistemas econômicos, ambientais e sociais são por demais complexas. Não existem fórmulas prontas. Não existem certezas, apenas dados que os homens juntam para tentar tirar conclusões. Mesmo com milhares de técnicos, computadores, satélites, modelos matemáticos e anos acumulados de conhecimento, os homens falham miseravelmente em suas previsões. Erros e acertos, é assim que funciona a ciência, o que explica o tsunami que não chegou e o cobre que não acabou. O mundo da ciência, apesar da matemática e da física, não é exato.

Lida com probabilidades e na maior parte das vezes é surpreendido por um acontecimento novo, uma reação inesperada. Até mesmo pelo gênio dos homens. É no gênio que tira as conclusões da análise dos dados frios que reside o valor da ciência. Onde um medíocre nada vê, um gênio pode ver o futuro.

Portanto, errar continua sendo muito humano. O problema é o que fazer depois do erro. Quem tem cérebro, aprende.Quem não tem, ou o tem a serviço de projetos de poder, projetos comerciais ou ideologias, faz diferente. Mesmo sem conseguir prever a chegada de um tsunami na esquina, continua dizendo que os oceanos vão ficar seis graus mais quentes daqui a cem anos.

Pois é. Quando não dá pra prever, o homem chuta.

Luciano Pires
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