quarta-feira, 19 de maio de 2010

O som do poder: o resgate da oralidade

Por Reinaldo Passadori

Por muito tempo, nossa cultura letrada tem sinalizado uma prevalência considerável sobre a cultura oral. Observando a história do Ocidente, vale apontar que a oralidade perdeu gradativamente força e espaço na civilização em virtude da aura nobre que circunda a escrita. Ao longo do tempo, a palavra escrita passou a ser considerada uma fonte mais confiável do que o volátil som da palavra. Além disso, a oralidade era considerada por muitos, decerto que equivocadamente, como uma expressão humana primitiva e distante do alto nível das belas letras da comunicação escrita.

O discurso oral é uma das mais potentes formas de poder. Um poder de convencimento, de persuasão, de relacionamento, de aliança, de assertividade, de posicionamento, de diálogo, de entendimento, em suma, de comunicação. Na comunicação organizacional e no mundo dos negócios , a análise dos processos deve envolver os meios orais empregados, pois a voz de um dirigente ou colaborador ressoa a voz da organização, apresenta características da “personalidade organizacional” e subsidia a edificação da imagem corporativa elaborada pelos públicos. Ainda nessa diretriz, no contexto profissional, a oralidade deve ser resgatada e preservada como uma peça estratégica para consolidar o planejamento comunicacional.

Ao publicar uma ata de reunião, o profissional inevitavelmente camufla ou deixa escapar uma série de detalhes indescritíveis que rondaram a atmosfera da reunião. Era preciso estar lá, presenciar in loco para ouvir e para saber o que realmente aconteceu nos mínimos detalhes, por mais habilidade que tenha a pessoa responsável pela elaboração dos detalhes discutidos, debatidos, das opiniões manifestadas, das decisões tomadas.

Situação mais agravante se observa com a circulação de e-mails. Apesar de sua inegável praticidade e da agilidade que proporciona ao mundo contemporâneo, o e-mail não é capaz de transmitir o conteúdo da mensagem integralmente, porque ele é desprovido da emoção ou da atmosfera somente possível na emissão da voz e suas inflexões, da calma ou do nervosismo, do entusiasmo ou desânimo de quem fala.

É inestimável o número de casos em que uma mensagem escrita não foi interpretada corretamente – e pudera, afinal, as frases lidas sem entonação, sem emoção ou sem personalidade, perdem todo o seu sentido.

As culturas escritas e a cibercultura obviamente têm seu valor assegurado em nossa sociedade moderna. Além delas, porém, os processos primários de comunicação permanecem, na expressividade do corpo, da voz, da palavra e das formas utilizadas para o planejamento e elaboração das apresentações e das falas formais e informais nos relacionamentos interpessoais. Ser visionário, empreendedor e otimizar a competência gerencial, no presente, é ter a habilidade de se virar ao passado e resgatar a oralidade. Esse é o som do poder.


Extraído do site www.passadori.com.br
Acesso em 05.06.2009

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