quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Chiquinho e o Loki

Fui ao cinema assistir Loki, um delicioso documentário sobre a vida de Arnaldo Batista, um dos componentes do grupo Os Mutantes, que impactou a música popular brasileira no final dos anos sessenta e começo dos setenta. Loki são dois documentários em um. O primeiro trata de dois garotos (Arnaldo e Sérgio) e uma menina (Rita) que formaram Os Mutantes, vinte anos à frente de seu tempo. Quando o conjunto foi dissolvido, Arnaldo mergulhou em depressão, foi tratado como louco e internado em sanatórios até tentar o suicídio atirando-se pela janela de um hospital e entrando em coma. Aí começa o segundo documentário. Uma fã, Lucinha Barbosa, entrega-se a uma missão quase impossível: trazer de volta à vida o loki Arnaldo Batista, que ela amava. Graças à dedicação de Lucinha, Arnaldo recuperou-se e mesmo com sequelas motoras e na fala, voltou a compor e transformou-se em pintor. E participou do retorno triunfal dos Mutantes em 2006 em Londres. Lucinha casou-se com ele e é o anjo da guarda do Loki. Uma emocionante história de amor.
Pois bem... Em 1979, próximo a meu estúdio havia uma escola de música e dança. Eu queria uma atividade física que desse prazer e a dança parecia uma boa idéia. Ao matricular-me conheci o dono da escola: Francisco Florentino Rodrigues, o Chiquinho. Não demorou para eu descobrir que o Chiquinho era um coração com uma pessoa batendo dentro... Desenvolvemos uma amizade de irmãos, chegamos a morar juntos e passamos por momentos inesquecíveis. O Chico, seguindo sua vida como músico, tocando em bandas, fazendo jingles e compondo. E eu tentando virar cartunista.
O tempo e as prioridades nos separaram. Pouco nos víamos, mas temos aquele tipo de amizade que não precisa da proximidade física. Só o fato de saber que “ele está lá” basta para me trazer conforto, sabe como é?
Cerca de um ano e meio atrás o Chico sumiu. O celular não atendia. Então recebi um email de uma amiga comum: “Parece que o Chiquinho está internado num hospital com problemas sérios de saúde”. O Chico é diabético e já tinha sofrido um infarto. Apreensivo, fui atrás e descobri que ele estava saindo de trinta dias numa UTI depois de mais dois infartos que comprometeram 80% de seu coração. O Chico estava mal! Corri para o hospital para visitar o velho amigo e, ao chegar, conheci a Ângela, que se apresentou como “a namorada do Chico”.
Nos últimos 18 meses Chiquinho viveu um calvário, com água no pulmão, insuficiência renal, infecção hospitalar, catarata, feridas nos pés e seguidas internações. Em quase dois anos, deve ter passado a metade do tempo internado. E a Ângela a seu lado.
Ângela tem uma filha cantora e entrou em contato com o Chico em 2007, pois ele produzia jingles e poderia se interessar pelo trabalho da menina. Do Orkut surgiu um namoro. Chico com 56 anos, diabético, enfartado, duro, baixinho, careca e feio. E a Ângela com 37, uma bela mulher cheia de energia e um grande sorriso. Quatro meses depois do início do namoro, os dois infartos deram início ao calvário do Chico pelos hospitais. Muita gente sumiu, mas a Ângela ficou. Colocou sua vida de lado para dedicar-se ao Chiquinho, acompanhando-o em todos os momentos, cuidando dele como cuidamos de quem amamos.
E graças a Ângela o Chiquinho está vivo.
Na manhã de sábado passado em Salto, cidadezinha próxima de São Paulo, num cartório simplesinho, fui padrinho do casamento do Chiquinho com a Ângela. Emocionado vi o velho amigo, com andar frágil, 22 quilos a menos e ossos aparecendo onde sempre havia gordurinhas, mostrar aquele mesmo velho humor. Chico, aos 59 anos, irradiava felicidade. E a Ângela, aos 40, tão feliz quanto.
Quem colocou essa moça na vida do Chico? Na hora exata? Que missão é essa que ela cumpre?
A Ângela veio do mesmo lugar de onde saiu Lucinha. De uma fábrica de anjos.
Luciano Pires
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