quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Plantando água


Observar as plantas e copiar a natureza. Esta foi a saída que o agricultor Jurandir Anunciação de Oliveira buscou em seus antepassados para matar a charada proposta por pesquisador que lhe recomendou “plantar água” para conviver com a escassez de água no semi-árido nordestino de Cafarnaum, cidade baiana onde mora. A saída também servirá para amenizar o aquecimento global, segundo entende o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Antônio Donato Nobre. Ambos estiveram juntos em conferência sobre sistemas agroflorestais e mudanças climáticas realizada nesta quarta-feira (24) em Luziânia (GO).
“Eu planto mil folhas de palma, colho 4.750 litros de água e posso cultivar manga em agosto sem depender de água de barragem ou de chuva”, contou o agricultor durante o seminário que é parte da programação do VII CBSAF, Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais, organizado pela Embrapa e parceiros, e que tem objetivo de proporcionar o compartilhamento de experiências.
Oliveira conseguiu driblar os efeitos da seca em sua propriedade compactando folhas de palma sob o solo em que plantaria fruteiras. Mas como essa lógica tem indicado caminhos para salvar a Terra dos efeitos danosos das mudanças climáticas - que são dez vezes mais graves do que dizia o último Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), conforme anunciou Nobre?
Regador do Éden
Segundo o pesquisador, a descoberta de que a “floresta amazônica é o regador do Éden” ou que as árvores transpiram por unidade de área mais do que o oceano ocorreu fora dos modelos matemáticos dos meteorologistas. Pela física os cientistas russos captaram os princípios da natureza que os agricultores captaram pela intuição: as florestas funcionam como uma bomba de água, sendo, portanto essenciais no resfriamento da Terra, disse o Nobre. Segundo ele, cada árvore grande na Amazônia chega a evaporar 300 litros de água por dia.
Segundo o pesquisador, conseqüências do aquecimento global que estavam sendo esperadas para 2050 começaram a ser registradas já em 2007. “O gelo do Ártico derreteu tão rápido que desestimulou os investimentos para a ampliação do canal do Panamá”, aponta Nobre como um dos eventos que estão sendo antecipados pegando meteorologistas de surpresa."
“Ou muda ou morre”
O alerta foi feito pelo agricultor familiar para o contexto da região semiárida onde vive, mas tem a concordância do pesquisador do Inpe que fala da situação do Planeta: “a mordida virá, inesperada e brutal”, sentencia tendo por base dados históricos e não futorológicos, assegura. A saída, segundo entende não estará numa tecnologia que, sozinha, nos salve dos desastres climáticos, mas de uma agenda de colaboração e no conhecimento , defendeu.
Para tanto, o agrônomo está desenvolvendo o projeto Fênix amazônico que tenta a partir do conhecimento acumulado em vários setores, criar uma síntese que seja acessível e que colaborativamente encontre saídas para questões específicas como a fundiária, dos poluentes ou da sustentabilidade. Embora apontasse a necessidade de correção de rotas em diversas áreas Nobre avalia que “não haverá solução sem a Embrapa, sem a ciência e sem o conhecimento intuitivo do produtor”, finalizou.
Original no site:

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