segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Adeus - II



ACOMPANHANDO PACIENTES COM CÂNCER


O atendimento a pacientes com câncer tem me feito observar o como a necessidade de fechamentos de fatos e situações vividas faz a despedida assumir papel relevante no dia a dia dessas pessoas, pressionados que se sentem pela finitude da vida. A despedida deixa de ser um ato isolado, feito num único momento e passa à condição de processo visto por Yontef (1998.p.203) como “mudança ou uma transformação sofrida em um objeto ou organismo, na qual uma qualidade consistente ou uma direção podem ser discernidas”

As pequenas perdas, que comumente passam despercebidas, emergem, se tornam figuras, assumem movimento próprio e apresentam uma articulação seqüencial de tempo e espaço. O olhar parece estar focado, aguçadamente, naquilo que não se tem mais. Há uma certa predisposição para se despedir, para fechar. Tudo necessita ser vivido intensamente e rápido. Não há mais tempo a ser perdido e os adiamentos deixam de fazer parte da rotina.

O papel do psicoterapeuta, no meu caso, usando o fundo teórico da Gestalt –terapia passa a ser o de acompanhante desse processo, respeitando o ritmo, a intensidade e o tempo de seu desenvolvimento, reconhecendo o que de mais humano se faz presente. Remen (1993.p.47) afirma que “na verdade, a natureza humana não é desconhecida a nenhum de nós; através de nossa experiência interior e observação dos outros, desenvolvemos a percepção de seu alcance e amplitude, daquilo que nós mesmos e os outros somos e podemos ser”. Vestido da sua humanidade, ao psicoterapeuta, vai se tornando claro que o possível é abrir espaços para que essas situações se apresentem. As intervenções vão, cada vez mais, sendo focadas naquilo que está sendo perdido na vivência de cada um. Há uma aceitação, por parte do terapeuta, que propicia o aparecimento dos mais diversos sentimentos até que seja possível prantear o impossível, o perdido, o que já não se tem mais, o que deixou de existir. Para que, em seguida, após o reconhecimento do limite estabelecido, se torne possível vislumbrar o além, o agora, a possibilidade de prosseguir com uma nova situação reconfigurada, colocando o que antes era falta na condição de possibilidade presente, coerente com o momento. Buscaglia (2000.p.123) aponta que “a única realidade que conhecemos é a do exato momento que estamos vivendo. Realidade não é o que já passou nem o que ainda vem. Aceitar essa idéia tão simples torna a vida mágica. ... Isso não quer dizer que se viva apenas para o presente, mas que se viva no presente, o que faz uma grande diferença”. O fascínio do viver é sempre o descobrir no agora, uma possibilidade, mesmo quando se imagina não haver mais nenhuma.

Autora:

Magda Campos Dudenhoeffer

Psicóloga – Gestalt-terapeuta

Rua Visconde de Caravelas,91 - Botafogo - Rio de Janeiro - RJ – CEP 22271-030

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