sábado, 27 de junho de 2009

Câncer: A doença


Por Cláudia Botí

Sempre ouvi dizer que essa era uma palavra que ninguém gostava ou gosta de pronunciar. De repente, deparei-me com ela. O que fazer?
Como meu tratamento foi iniciado com um médico que também trabalhava num hospital oncológico-- ao qual me referirei daqui em diante como Hospital -- , segui todos os procedimentos pertinentes. Foi marcada uma reunião que a equipe do local chama de mesa redonda e na qual havia o que posso comparar a um JUIZ (Médico-Chefe), aos JURADOS (Médicos), ao RÉU (eu), à PLATÉIA (Médicos Residentes) e ao PROMOTOR PARA DEFESA (meu Médico).
Como aconteceu:
O Promotor de defesa apresentou todos os exames que haviam sido realizados.
O Juiz colocou-me como sentença fazer tratamento com quimioterapia e radioterapia, para que meu percentual de vida fosse estabelecido em mais ou menos 98%. Informou-me que a minha fertilidade passaria a ser afetada.
Os Jurados concordaram com a sentença.
A Platéia tentou ser solidária e perguntaram-me, quantos anos eu tinha, se era casada e se já tinha filhos.
Ao sairmos da sala chorei muito e meu médico, que é muito solidário comigo, tentou acalmar-me e disse que juntos tomaríamos a melhor decisão.
Decidimos fazer somente a radioterapia, pois apostávamos que essa seria a solução e que, com ela, não seria afetada a minha fertilidade.
Acima, explanei a minha maneira de sentir a parte fria pela que passei.
A partir daí, comecei a seqüência para realizar a radioterapia:
1a. fase
Tomografia para que pudessem ser feitos blocos de aço que seriam colocados em pontos estratégicos na máquina.
2a. fase
Demarcação feita com ajuda de equipamento por meio do qual seria feita a radioterapia. As marcações eram feitas com canetas coloridas (lembro-me até hoje do cheiro da tinta), que não podiam ser retiradas até o final da aplicação da radioterapia. Foi muito ruim porque eu tinha o cuidado de esconder para que as outras pessoas não vissem.
3a. fase
Aplicação da radioterapia durante a qual eu não podia mexer-me de forma alguma, pois corria o risco dos raios atingirem partes que não poderiam atingir. Por exemplo: quando feita no pescoço, poderiam atingir meus dentes e, conseqüentemente, eu os perderia. Os efeitos colaterais eram terríveis; o vômito era um dos inimigos na hora da aplicação.
4a. fase
Aplicação da radioterapia na parte do abdome e da pelve, um mês após aquela feita no pescoço. Os procedimentos foram os mesmos.
Neste primeiro diagnóstico, não parei de trabalhar. Saía do serviço em cima da hora para fazer o tratamento. Às vezes, os funcionários do Hospital tinham que me esperar.
O Hospital ficava bem perto de onde eu trabalhava, mas eu tinha que ir de táxi porque de ônibus ficava inviável. Para não haver recusa do motorista (parece mentira mas acontece), doía quando eu falava: “Hospital ..., por favor.”
A minha mãe acompanhava-me a todas as sessões que aconteciam todos os dias. Chegou uma fase em que eu entrava no prédio de olhos fechados e minha mãe guiava-me. Jamais alguém do Hospital preocupou-se com isso.
Havia necessidades que faziam parte do tratamento e eram mais simples, como coletar sangue uma vez por semana e passar pelo radioterapeuta.
Coloquei-me à disposição de uma doutora para que fosse feita uma pesquisa de pessoas com o mesmo tipo de câncer que o meu e a mesma faixa de idade. Cheguei a coletar sangue, mas nunca recebi retorno algum.
Então segui minha vida fazendo controle.

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